O Sincopado desta semana traz-nos Quincy Jones, o lendário músico e produtor de grandes nomes da música norte-americana. Jones festejou 88 anos no passado dia 14 de março. Recordamos aqui os pontos altos da sua longa carreira
Crónica de Cristina Bokor Rogeiro
Cantora e estudante na Escola Superior de Música de Lisboa
Quincy Jones, o lendário produtor de Thriller de Michael Jackson, We Are The World de 1985 e Fly Me To the Moon de Frank Sinatra completou 88 anos no passado domingo. Com 50 anos de uma carreira incomparável na indústria do entretenimento, celebra o seu aniversário relembrando o público que ainda agora está a começar.
Nasceu em Chicago, Illinois, e aos 10 anos, durante a Grande Migração, mudou-se com o pai e o irmão para Bevermont, Washington, onde começou o seu percurso como trompetista. Com 14 anos conheceu o grande amigo Ray Charles, de 17 na altura, com quem tocou em casamentos e clubes de jazz. Ganhou uma bolsa para a Schillinger House, a atual Berklee College of Music de Boston, no entanto interrompeu os estudos quando ingressou numa turné europeia com o famoso vibrafonista Lionel Hampton. Foi durante esta viagem que descobriu o seu talento para fazer arranjos musicais.
Mais tarde, foi para Nova Iorque onde deu os primeiros passos como arranjador para vários nomes do jazz tais como Sarah Vaughan, Dinah Washington, Count Basie e Duke Ellington. Foi também trompetista e diretor musical da Dizzie Gillespie Band numa turné pelo Médio Oriente. Com 20 anos, Quincy admite que para elevar o seu trabalho a outro nível tem que investir em estudar a fundo este mundo, decidindo, então, estudar composição e teoria musical em Paris com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen. Como ninguém ficava indiferente a Quincy, chegou a ser diretor musical na gravadora francesa Barclay e também para a Mercury em França, tornando-se mais tarde o primeiro afro-americano vice-presidente da label.
Foi um grande nome do jazz durante os anos 50, fazendo parte de algumas orquestras como trompetista e diretor musical. Viajou pelos EUA com a sua big band de 18 músicos “The Jones Boys” com Eddie Jones e Reunald Jones, que apesar de ter grande reconhecimento do público e dos críticos foi um fiasco financeiro. É nesta altura que Quincy Jones começa a entender um novo conceito, o “music business” que já não era só a música que conhecia. Tinha consciência de que saber distinguir os dois seria essencial para a sua sobrevivência.
Nos anos 60 fez arranjos para Frank Sinatra, com quem desenvolveu uma forte amizade, aliás ainda hoje usa um anel que este lhe deixou. Passou também por nomes como Ella Fitzgerald, Peggy Lee, Lesley Gore com o famoso “It´s My Party” e ainda escreveu o icónico tema “Soul Bossa Nova” (daqueles que existem desde que a terra foi criada).
Nos anos 70 criou a Qwest Productions arranjando e produzindo mais uma vez para Frank Sinatra e a banda sonora de The Wiz, adaptação musical de The Wizard Of Oz. Um dos atores deste projeto era o jovem Michael Jackson, cuja disciplina e dedicação chamaram a atenção de Quincy, que mais tarde produziu os seus discos Off the Wall de 1979, Thriller de 1982 e Bad de 1987. The Color Purple foi a sua primeira experiência como produtor cinematográfico, filme que recebeu 11 nomeações nesse ano. É nesta altura também que Quincy Jones introduz ao mundo Oprah Winfrey e a atriz Whoopi Goldberg e ainda o talento de Will Smith.
A lista de grandes nomes que passaram pelo músico é interminável desde o jazz ao hip hop ( foi dos primeiros a fundir os dois géneros), do r&b ao pop, do afro à bossa nova. Jones tem um talento natural para descobrir outros talentos e adaptar-se a todos os estilos e a todos os tempos. É um ícone dos anos 50, mas também dos anos seguintes até hoje, porque se adapta e reinventa constantemente. “Check Your Ego At The Door” era a frase que se lia à porta do estúdio que juntou grandes nomes para o “We Are The World”, o que mostra muito do caráter do ícone que se mantém humilde na sua criatividade e agradecido pelo sucesso até hoje.
Quincy Jones não olha para géneros musicais, mas sim para a boa música e a menos boa deixa de lado. Alguém que cresceu com Ray Charles, trabalhou com Frank Sinatra, Michael Jackson e mais tarde Will Smith ou Jacob Collier é uma verdadeira lenda viva. É um privilégio e um gosto enorme poder percorrer a sua carreira de tantos anos, que está muito bem representada no documentário “Quincy” da Netflix. Provavelmente um dos documentários de música mais impactantes para músicos ou não, que prova que de facto tudo é possível. Começar do nada, e tornar-se tudo. É remédio santo para aqueles que se sentem menos inspirados nestes tempos.
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