Esta semana o Sincopado foca os seus holofotes no Tiny Desk (Home) Concert, que reuniu no mesmo palco o artista beninense Shirazee e o lendário cantor e líder dos The Police Sting. O propósito foi a adaptação de Shirazee da famosa canção do artista britânico "Englishman in New York. O resultado ficou registado e vale a pena ouvir.
Crónica de Cristina Bokor Rogeiro
Cantora e estudante na Escola Superior de Música de Lisboa
O clássico “Englishman in New York” de Sting é agora “African in New York”. O artista beninense Shirazee adaptou o tema icónico que chegou aos ouvidos de Sting e o convidou para abrir consigo o seu Tiny Desk (Home) Concert da última semana. Esta é mais uma prova da universalidade da música do artista inglês. Depois de ouvirmos a nova versão, chegamos à conclusão de que poderiam ser feitas muitas mais sobre todos aqueles que de cada canto do mundo chegam à cidade onde os sonhos são tornados realidade.
A atuação dos dois artistas de gerações e estilos completamente distintos é magnífica. É muito bonito ver a forma como Sting respeita e se adapta a um remake da sua própria música, como se o compositor fosse quem se senta ao seu lado. Mais bonito ainda é ver duas culturas tão diferentes na mesma sala com tanta cumplicidade. A música tem o mesmo efeito que estar longe do nosso país e encontrarmos alguém que fala a nossa língua, e é isso que sentimos ao ver a abertura deste Tiny Desk.
Mais à frente Shirazee passa a fazer parte do público no concerto de um dos seus grandes ídolos. Sting mostra mais uma vez que os anos não passam por si com “If I Ever Lose My Faith In You”, segundo single do álbum “Ten Summoner’s Tales” de 1993, e “Sister Moon” do disco “Nothing Like The Sun” de 1987. O primeiro tema tornou-se um dos seus de assinatura, o que é muito interessante porque tem uma ambiguidade que dificilmente encontramos nas letras de hoje. O artista fala de tudo aquilo em que deixou de ter fé, definindo cada uma dessas coisas, mas mostra ter esperança noutras que não define. Acredita que é mais fácil concretizar aquilo em que já não acredita do que aquilo em que ainda deposita alguma fé, e portanto não dá nome ao “You”.
“Sister Moon” é o terceiro tema do concerto, e por não ser muito comum ouvi-lo ao vivo torna-se tão especial este momento. Esta canção é a raíz do disco pois está diretamente ligada ao título do mesmo, pelo verso “My mistress eyes are nothing like the Sun”, do soneto 130 de William Shakespeare. Sting inspirou-se numa noite em que se deparou com um homem embriagado que lhe perguntou “How Beautiful is the Moon?” ao qual o artista respondeu citando o verso.
O cantor tem uma tendência para explorar o mais íntimo de figuras místicas ou recriar histórias e hipnotiza-nos com a sua narrativa. As suas atuações são cativantes como um livro que devoramos por querer saber sempre mais e mais e isto é amplificado no último Tiny Desk Concert. É impossível ficar indiferente a Sting. Mais uma vez o NPR Music não falha.
Comments