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Sinfonia Roja em Berlim

de Maria Madalena Freire

Não há nada que saiba melhor do que ver uma equipa que merece ganhar, ganhar.

É justiça, seja poética, seja epopeica, o que for. O futebol, o desporto que tantos de nós amam, é muitas vezes injusto e, por isso, quando não o é é surpreendente e aliviante. 


Num mundo em que muitas coisas inesperadas acabam por acontecer, esperar e querer que uma equipa que é futebolísticamente superior ganhe, e esta acaba por ganhar, faz-nos ter uma noite de sono tranquila. 


Felizmente, Espanha soube ser essa equipa. 

Inglaterra chegou à sua segunda final consecutiva e perdeu-a, de novo. Desde o início do torneio que a seleção dos “três leões” já vinha a acusar as suas fraquezas e muitos adeptos agarravam-se à esperança da sua eliminação. 


Mas pareciam um gato com sete vidas. Golos caídos do céu, nos descontos, oriundos da magia das individualidades, empurrou Inglaterra a acreditar que o futebol iria para casa - não sei porque insistem nesta frase, certamente não tem dado sorte. 


Chegaram à final de uma maneira totalmente à da Espanha. Uma equipa formada por underdogs e estrelas em ascensão, composta por um variado leque de clubes espanhóis -e não só - mas que se estendem por toda a tabela classificativa do campeonato espanhol. 


De La Fuente - selecionador da La Roja - soube pegar nas peças e formar um puzzle. Uma equipa pensada e treinada para potenciar as melhores qualidades de cada um, não para se destacarem individualmente, mas para se complementarem e formarem uma unidade imbatível. 


E assim foram. 


Chegaram invictos até à final, nem tendo um conjunto assim tão poderoso na defesa como se possa pensar de outras equipas que têm jogadores nos clubes da ribalta de hoje. 

A complementariedade da juventude com a experiência, a alegria de jogar futebol com a frieza de enfrentar um empate ou um jogo bloqueado criaram uma sinfonia futebolística que deu gozo de ver. 


Num Europeu exige-se boas exibições de muitas seleções, como Alemanha, Itália, França, Portugal e Inglaterra. Mas estas não o conseguiram, pois, seja o treinador ou a federação, focaram-se mais em ter uma maior quantidade de estrelas - mesmo estando em má forma - do que em ter os melhores jogadores da época 2023/2024. 


No entanto, via-se Mbappé a ser substituído, o próprio Kane deu lugar a Watkins aos 70 minutos na final. Mas foi tarde demais. 

A esperança que a individualidade rasgue o coletivo é ainda maior do que a luta pelo coletivo, mas o selecionador espanhol não se deixou enganar. Mesmo tendo estrelas mundiais no seu plantel, como Rodri ou Carvajal, ver Espanha a jogar ontem (ou em qualquer jogo) não nos fazia focar num só homem. 


Ouvir o trabalho de um maestro com percurssão, cordas, sopro  é sempre melhor do que ter um solo de violino com uma orquestra inteira parada atrás. 

Williams de 21 anos, do Athletic Bilbao, e Oyarzabal de 27 anos do Real Sociedad apontaram os golos que deram a vitória aos nossos vizinhos. Mas eles nunca serão os destacados das capas de jornais de hoje, nem nunca serão os únicos lembrados das histórias do futuro sobre a conquista da 4ª taça europeia dos espanhóis. 


Será a Roja envergada por 26 jogadores que de La Fuente conduziu. Às vezes não é preciso ter um hino com letra para o cantar, é só preciso saber a melodia para poder encantar. 

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