de Luísa Agapito
Cerca de 25 milhões de pessoas, entre as quais 14 milhões de crianças, necessitam de apoio humanitário urgente.
Pelo menos 17 milhões enfrentam fome extrema, sendo que 4.9 milhões podem morrer à fome a qualquer momento.
Mais de 8.6 milhões civis estão deslocados e tentam procurar refúgio nos países vizinhos (República Centro Africana, Chade, Egito, Etiópia e Sudão do Sul).
Atualmente, apenas uma em cada dez pessoas em situação de fome se encontra numa zona capaz de receber assistência devido às restrições de acesso à ajuda humanitária.
Que guerra esquecida é esta?
O Sudão teve poucos tempos de paz e nenhuns de prosperidade. Desde a sua independência, em 1956, que tem sido assolado por diferentes conflitos internos.
Em 2019, depois de 30 anos da ditadura de Omar Al-Bashir (formalmente acusado de genocídio entre 2009 e 2010), deu-se uma revolução pacífica e democrática para uma tentativa de construção de um Estado Democrático.
Nesta altura, o Governo Militar passou a ter um Chefe Militar Transitório, o GeneralHemedti. O movimento democrático conseguiu que se negociasse uma transição de soberania, em que o General Abdel Al-Burhan era o Presidente, o General Hemedti seria o seu braço direito e os civis seriam representados por um Primeiro-Ministro,Abdalla Hamdok.
Nestes anos e meses os grupos democráticos tentaram negociar direitos básicos, uma Constituição, eleições livres para 2022 e julgamentos por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional (TPI).
O problema da transição democrática sudanesa é que nasceu condenada à partida. Os chefes militares nunca quiseram abdicar do poder político, o mesmo é dizer do controlo das minas de ouro, a base da economia do Sudão.
Com o aumento das tensões entre as negociações dos civis e os militares, em outubro de 2021, o Chefe de Estado Burhan e o seu braço direito, general Hemedti juntaram-se para dissolver a parte civil do governo e prenderam o então Primeiro-Ministro Hamdok.
A 15 de abril de 2023 iniciou-se mais uma guerra civil no país, entre dois grupos militares, de um lado, as RSF (Rapid Support Forces), lideradas pelo General Hemedti,de outro lado, as SAF (Sudan Armed Forces), controladas pelo Chefe de Estado, o General Burhan.
O país está nas mãos destes dois homens da guerra, que lutam por um poder absoluto. No fundo, lutam pelo controlo das minas de ouro, deixando o país devastado.
Com o exército de Hemedti a controlar toda a região do Darfur, até setembro podem morrer à fome 2.5 milhões de civis porque há um cerco à ajuda humanitária.
Em 2024, o Irão posicionou-se ao lado de Burhan e a Rússia, através do Grupo Wagner,apoiou Hemedti. Após a morte do Presidente do Grupo Wagner, a Rússia parece ter mudado de posição, sendo que agora financia e apoia os dois lados da guerra.
O grande objetivo do apoio internacional que esta guerra tem tido é como quase sempre económico. Os países estrangeiros querem controlar quem está no poder no Sudão para ter maior acesso ao seu ouro. Será por isso irrelevante quem controla o país, se Hemedti ou Burhan.
Enquanto isso, milhões de sudaneses refugiam-se em países vizinhos, morrem à fomeou são vítimas da guerra. Longe das manchetes, o conflito no Sudão permanece uma das piores crises humanitárias sem fim à vista.
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