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Terá Portugal um papel na redução das emissões mundiais de CO2?


Portugal faz parte dos países mais “consumistas” que, por um lado estão a fazer a sua parte no que toca a reduzir as emissões diretas, mas que por outro, pouca atenção tomam às indiretas.



Crónica de Adriana Martins

Licenciada em Engenharia Mecânica, Imperial College London



Fatores como o nível de desenvolvimento, população, clima e riqueza de cada país influenciam os seus níveis de emissão de CO2. Pequenos países, como é o caso de Portugal, têm inevitavelmente uma contribuição menor em comparação com as grandes potências (a EUA e a China), que são os maiores poluentes mundiais (ver gráfico). Na verdade, a contribuição de Portugal para as emissões mundiais de CO2 não chega nem a 0.5%.






A pergunta é, se a contribuição de Portugal para as emissões totais de CO2 é mínima, e em geral temos feito a nossa parte para reduzir a poluição (com 55% da produção elétrica vinda de fontes renováveis e iniciativas para aumento do número de carros elétricos), porque é que nos devíamos preocupar? Será sequer uma responsabilidade nossa?

É importante perceber que os números que normalmente vemos, incluindo o gráfico apresentado neste artigo, estão relacionados com as nossas emissões diretas (emissões que vêm diretamente do nosso país e que controlamos). Porém, todos os países desenvolvidos, Portugal sem exceção, possuem também muitas emissões indiretas. Estas últimas estão relacionadas com todo o CO2 que foi emitido para o fabrico e transporte dos carros, roupas, telemóveis, e comida importada (como é o exemplo do abacate que muitos adoram). Muita dessa produção tem vindo a ser transportada para a Ásia por exemplo, onde é feita em massa com hábitos de trabalho pouco sustentáveis. Por mais que certos países, em especial na Europa, tenham vindo a reduzir as suas emissões diretas de CO2, os seus estilos de vida estão a ser promovidos e mantidos por indústrias (algumas bastante energy intensive) com produção noutros países. O comércio global veio permitir a importação de produtos mais baratos, no entanto as emissões associadas a esta logística de compra e venda à volta do mundo são absurdas.


Tendo em conta tudo isto, a verdade é que temos sim todos responsabilidade nas emissões globais de CO2!


É difícil quantificar as emissões indiretas de cada país. Porém, mesmo que fosse simples, as medidas relacionadas com a sua redução são para alguns um pouco drásticas, pois pouco podemos fazer para mudar os hábitos de produção nos outros países. Reduzir a importação e preferir importar produtos de produção sustentável são opções. No entanto, muitas são as consequências sociais e económicas relacionadas com estas (além da dificuldade em aplicar a segunda devido à falta de transparência de algumas indústrias).


Uma opção sensata, na opinião de muitos é a adoção de um comércio mais local, priorizando produtos de produção portuguesa. Esta última poderá envolver sacrifícios numa sociedade que já está habituada aos preços e à disponibilidade dos produtos importados.

Com base nestes factos, a ideia a reter é a de que a responsabilidade das emissões de CO2 mundiais não é apenas de alguns países onde os níveis de produção industrial são maiores, mas é uma responsabilidade geral, incluindo dos países consumistas que alimentam as produções e indústrias menos sustentáveis. Portugal faz parte dos países mais “consumistas” que, por um lado estão a fazer a sua parte no que toca a reduzir as emissões diretas, mas que por outro, pouca atenção tomam às indiretas. A tarefa é difícil, porém o diálogo deveria começar se um dia nos quisermos considerar neutros em carbono. Nós e todos os outros.



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