A Harvard Business Review publicou este mês um artigo intitulado “When People Listen to Happy Songs, the Market Outperforms”, em que revela os resultados de uma pesquisa sobre a influência da música na performance dos mercados financeiros – quando os investidores ouvem música animada e positiva, os investimentos futuros têm mais retorno. Esta conclusão chamou-me particularmente à atenção pelo contraste entre as típicas influências dos mercados como os princípios mais teóricos da racionalidade económica e as emoções.
de Beatriz Viana
Portanto, ainda que seja uma dedicada economista, defino-me mais como devoradora de playlists de Spotify, pelo que não pude deixar de extrapolar a camada económica, e por me a pensar: Será que, também nós, somos movidos por um soundtrack?
Já que estamos em fecho de contas anuais de 2021, o meu balanço pessoal está positivo em musicalidade: 75 453 minutos de música no Spotify. No início deste ano, decidi criar playlists mensais e ir adicionando consoante descobria novos temas, ouvia algo que gostava num filme, numa noite, num álbum, ou que alguém me enviasse com carinho. Tenho, agora, 12 playlists só minhas e perfeitamente aleatórias em estilo ou época, mas que me teletransportam a esse mês como nenhuma memória o é capaz de fazer. Foi o meu melhor hábito de 2021 (para 2022 prometo beber mais água).
Mas as memórias invocadas por música não se cingem a playlists. Há álbuns que nos fazem parar no tempo, há músicas que nos tiram o ar. Com todos os confinamentos, incertezas, mudanças, e variantes, para mim uma coisa foi certa: há que encontrar um botão de play.
Sei que não estou sozinha nesta imersão musical, pelo que convido a aproveitar a efémera crise existencial que acompanha a passagem de ano, para abrir o baú das memórias, e ligar o Spotify, ou o Youtube, ou a Rádio ou o MP3 e avisar os vizinhos: se recordar é viver, porque não fazê-lo em alta voz?
Que música te leva a um momento? Soundtracks de vidas que não a minha: contribuições de amigos, família, e público em geral:
- Amália, Uma Casa Portuguesa: férias em família
- Rex Orange County, Sunflower: primeiro confinamento
- Katy Perry, Hot N’ Cold: videoclipes amadores nos intervalos do ensino básico
- Alt- J, Breezeblocks: caminhar até à faculdade
- Aretha Franklin, A Rose is Still a Rose: final de uma corrida num dia de calor
- Beirut, Postcards from Italy: para inspiração criativa
- Fleetwood Mac, Seven Wonders: conduzir na marginal até Cascais
- Patti Smith, People have the Power: para trabalhar até às 3 da manhã
- Taylor Swift, Shake it Off: arrumando o quarto
- One Direction, One Thing: qualquer momento do 6º ano
- Adele, Someone Like You: está a chover no carro e vou lanchar
- Michael Bublé, Mrs Jones: para apaixonar sem dar conta
- Adriana Calcanhoto, Assim sem Você: atuação para os pais no 4º ano
- Chayanne, Madre Tierra: viagem de finalistas em cruzeiro
- Maroon 5, Payphone: a relação de 2 dias no 8º ano
- Black Eyed Peas, I’ve Got a Feeling: o baile de finalistas do 4º ano
- Angie Stone, Wish I Didn’t Miss You: não lhe dei um beijo e devia ter dado
- Keane, Everybody’s Changing: a mãe no carro a levar-me à natação
- Ana Gabriela, Céu Azul: se a paz fosse um momento, a olhar para o mar
- Lartiste (ft. Carolina), Mafiosa: queima das fitas 2019
- Doce, O.K., K.O: 4 amigas e um par de praias
- Rui Veloso, Anel de Rubi: são 6h da manhã, e o Via Rápida acendeu as luzes
- Maris Monte, Vilarejo: Missão Timor
- Dua Lipa, No Lie: Spring break 2017
- Drake, One Dance: discoteca Seven 2016
- Queen, Don’t Stop me Now: um momento de despedida entre dois amigos especiais
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