de João Campos
A primeira competição que me lembro de acompanhar com alguma capacidade de raciocínio e de colagem de cromos da Panini foi o Mundial 2006.
Nessa grande competição, também na Alemanha, Portugal tinha o que ainda hoje entendo ter sido o nosso melhor grupo e talvez – argumentável, claro - a nossa melhor prestação em grandes competições.
Habituei-me a isto e, a partir daí, foi, vagarosamente, sempre a descer.
Algures em 2015 começamos a inverter a tendência, ganhamos um Euro sem ter ainda uma qualidade destacada, mas com alguma sorte e muito sacrífico e poesia. Sempre arrepiante pensar.
E cá estamos: de regresso à Alemanha e, tal como em 2006, com uma equipa que não fica atrás das melhores seleções do Continente. Estamos nos favoritos, desta vez estamos mesmo, não há como negar.
No que diz respeito ao nosso adversário, o saldo era francamente positivo. Desde a dissolução da Checoslováquia, no primeiro dia do ano de 1993, Portugal e Chéquia encontraram-se cinco vezes e perdemos apenas uma. A derrota foi exatamente no primeiro jogo, nos quartos-de-final do Euro 1996.
Nos restantes jogos Portugal levou a melhor em duas partidas da Liga das Nações e dois jogos de boa memória no Euro 2008 e 2012.
Mas que equipa é esta? O conjunto que tem, talvez, como figura maior Patrik Schick -famoso por ter igualado Ronaldo como melhor marcador do Euro 2020 - alinhou num esquema de 3-5-2 e onde não há craques para sobressair. Para quem se lembra de Poborsky, o bola de ouro Pavel Nedved, Petr Cech ou Tomas Rosicky, perceberá o meu ponto.
E Portugal? O meu 11 não teria sido aquele que apareceu em campo, mas acho que não teria sido o de ninguém. A meu ver Portugal potencia-se mais e coloca os seus 11 melhores jogadores em campo no formato 4-3-3.
Aliás o meu 11 teria sido com defesa a dois com Pepe e Rúben, laterais Nuno e Cancelo, meio-campo com Palhinha, Vitinha e Bruno e depois Ronaldo (ou Jota), Leão e Bernardo.
Quando foi anunciado no 11 que Nuno Mendes, lateral-esquerdo, jogaria como central, ocorreu-me a invenção já antiga de Jorge Jesus num jogo contra o Porto quando o mister colocou David Luiz, central, a lateral-esquerda e o pobre brasileiro acabou cilindrado pelo Hulk. (Saudades, JJ.)
Mas assim foi, Portugal entrou em campo e parece que o jogo nunca descolou totalmente para o que a equipa promete. No entanto, deve-se dizer, o jogo teve sempre domínio da nossa parte, até porque a Chéquia esteve sempre num modelo de bloco baixo.
Essa realidade permitiu que Bruno, como de costume, e Vitinha, que está em grande forma, pisassem os seus terrenos com conforto e muita qualidade.
O golo não apareceu e a Chéquia acabou por fazer primeiro. Às vezes dá nisto. Diogo Jota entrou bem e é um jogador que alia um grande compromisso a um conjunto de ferramentas técnicas que me fazem ter uma estima especial. Para mim faz quase sempre falta dentro de campo.
No fim acabámos a desenrascar na pressão – com o mal-amado e criticado Francisco Conceição – um pouco a fazer lembrar os tempos em que tínhamos uma seleção menos forte e jogávamos mais de coração.
Neto e Conceição apareceram naquilo que era pedido para eles: desequilibrar. Foi cumprido. Aposta na convocatória ganha, por agora.
Os “apaixonados” (este nome não me convence) sentaram-se na mesa 3 dos pontos, mas com um jogo à portuguesa. Podemos fazer mais.
Acabo com três notas:
1) Parabéns ao Pepe por ser o jogador mais velho de sempre a jogar em Europeus. Nunca será feita verdadeira justiça a um dos melhores centrais da sua geração, sobretudo quando teve ao seu lado no Real Madrid um central que defendia menos, mas como atacava mais e era espanhol, saiu com melhores holofotes. Mas nós, portugueses, sabemos bem que o melhor central da nossa história é um orgulho para todos. Parabéns, também, ao nosso GOAT, o Cristiano, por ter batido este record de jogar 6 Euros e dar mais um ponto ao seu grande rol de records. De 2004 até aqui, que aventura tem sido, Ronny.
2) Também se fazem campeões nos jogos em que as coisas não saem totalmente bem, mas onde se consegue ganhar na mesma. Nem tudo corre bem em todos os momentos, e numa competição curta e com poucas segundas oportunidades a estrelinha importa.
3) Atenção à Turquia e Geórgia que nos deram um bom espetáculo de futebol durante a tarde. Pode parecer contraintuitivo pelo passado recente das seleções, mas se calhar o nosso jogo mais fácil pode ter sido este.
Acredito que vamos ser mais consequentes nos próximos jogos e passar o grupo em primeiro, como é a nossa responsabilidade.
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