Por mais que se tente descobrir uma fonte concreta para o problema do armamento, é muito difícil, pois o que aqui fiz foi simplesmente enumerar as três principais fontes de armamento ilícito do mundo, havendo muitas outras.
Crónica de Francisco Pena
Estudante de Relações Internacionais, Lisboa
Inicio este texto, com uma constatação bastante simples: já todos vimos na televisão, e alguns infelizmente ao vivo, as imagens dantescas de um atentado terrorista, que se consubstancia numa explosão ou num atirador que mata indiscriminadamente. Mas raramente surge a pergunta, “Onde é que ele arranjou a arma?”. Esta pergunta é menos comum pois não tem uma resposta simples, aliás, de modo a responder a essa questão vamos ter de “visitar” pelo menos dois continentes. Sendo pragmático e sistemático, vamos tentar esquematizar a tão complicada resposta a esta pergunta, recorrendo a três casos específicos: a URSS, o Afeganistão e, por fim, a Líbia.
Relativamente à URSS, poderia fazer uma tese de mestrado se fosse enumerar os conflitos em que os soviéticos armaram alguém ou algum lado. Assim, fica apenas a ideia geral de que em quase todos os conflitos da segunda metade do século XX que tiveram lugar na África ou na Ásia, a URSS armou pelo menos um lado da “luta”. Queria focar-me no que se passou mais concretamente neste colosso geopolítico em 1991, ano em que o deixou de o ser. A URSS passara a ser a Rússia e os seus satélites eram agora estados independentes. Motivo de alegria geral, não fosse uma depressão económica que deixou a maior força armada do mundo “falida”. Colocando-me na pele de um oficial russo que ganha trinta dólares por mês e tem à disposição armamento militar a perder de vista, não seria uma mal pensado do ponto de vista económico vender grande parte dele, visto que ninguém que me irá incomodar se assim o fizer. E, infelizmente, assim foi. Quero apenas que entendam que não estou a falar de dez metralhadoras, (o que só por si já seria grave), estou a falar de tanques, helicópteros de ataque e, por mais incrível que pareça, um submarino nuclear que acabou na Colômbia a traficar droga. Sem saber as enormes repercussões que isto teria, o nosso oficial russo acabou de contribuir mais num ano para o terrorismo mundial do que as outras nações do mundo numa década.
Recuando ainda mais no tempo até 1979, temos o início daquilo que muitos apelidam do “Vietnam soviético” em analogia ao desastre militar americano na Ásia. Em suma, os soviéticos invadiram o Afeganistão de modo a assegurar mais reservas de petróleo e combater atividade subversiva ou considerada contra o regime. Contudo, os russos cometeram o exato mesmo erro que os americanos no sudeste asiático: subestimaram o inimigo e sobrevalorizaram o seu exército. O inimigo tratava-se dos Mujahidin, um movimento nacionalista islâmico constituído por membros como Osama Bin Laden, treinado e armado pelos americanos. Resumindo, os soviéticos sofreram uma derrota estrondosa e bateram em retirada para fora do país, deixando toneladas de material militar para trás, que acabou por armar movimentos como a Al-Qaeda.
No último caso que vamos analisar, a culpa deixa de ser dos russos para passar a ser dos europeus e americanos. No caso da Líbia, conseguimos remover do poder um ditador tirano com bastante sucesso, apenas para depois nos esquecermos da existência daquele país e o deixarmos entregue ao seu destino. Assim, a Líbia ainda não tem governo desde que a deixámos, e transformou-se num paraíso para traficantes de armas, pessoas e droga. Isto afeta-nos diretamente pois devido à sua proximidade geográfica, a Líbia tornou-se a porta para a Europa de quase tudo o que é ilícito, com enfase para as armas, usadas em ataques como os de França ou o mais recente em Viena.
Concluindo, julgo que ainda assim, por mais que se tente descobrir uma fonte concreta para o problema do armamento, é muito difícil, pois o que aqui fiz foi simplesmente enumerar as três principais fontes de armamento ilícito do mundo, havendo muitas outras. Termino constatando que é curioso pensar que o armamento terrorista usado hoje contra nós e outros cidadãos inocentes, tem origem em conflitos que decorreram há mais de quarenta anos, ou mais grave ainda, que estamos a ser vítimas da nossa própria negligencia enquanto ocidentais, que deu origem a um problema sem uma solução aparente.
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