Pedem-nos o mesmo: que não nos esqueçamos de retribuir, apoiando a arte, agora e no futuro.
Ilustração por Leonor Miranda
Estudante de Arte e Multimédia na FBAUL
Crónica de Sofia Escária
Estudante no mestrado de Monetary and Financial Economics no ISEG
Escreveu-nos António Ribeiro Telles há uns dias, e muito bem, se me permitem a observação, que, neste momento particular no qual nos encontramos, a “cultura está à distância de um router”. Atrevo-me a acrescentar, no caso dos que possuem, infelizmente, mais dificuldade em aceder ao mesmo, seja por que motivo for, que também as empresas de telecomunicação, a par das diversas autarquias e organismos públicos, têm procurado intervir no sentido de solucionar este problema e de mitigar as disparidades existentes. Sucedem-se, em catadupa, condições excecionais para que o isolamento social que nos é imposto pelo dever cívico e a consciência de boa cidadania não resulte, efetivamente, na exclusão e exílio das massas. Pelo contrário, esta pandemia reveste-se de um sentimento coletivo de partilha, de solidariedade e consciencialização para a relevância do bem-estar comum. Distanciamo-nos para nos protegermos a nós mesmos, mas principalmente os outros, não só os vulneráveis, mas todos no geral. Haverá algo mais nobre do que isso?
Certamente não passou despercebido, mesmo aos mais desinteressados ou distraídos, o movimento inédito que juntou artistas e entidades das mais diversas índoles e expressões de que a arte se pode revestir, em prol da sobrevivência (e não apenas do mero entretenimento) de toda a população. Com efeito, é disso que a arte vive, do enriquecimento civilizacional, do estímulo ao progresso e ao desenvolvimento dos hábitos, dos costumes e comportamentos do quotidiano. Tal como todos nós, também os museus, equipamentos culturais e demais profissionais da área se adaptaram à realidade que vivemos, fazendo-nos chegar ao conforto dos nossos lares algum ânimo e encorajamento. A mensagem é clara: podemos contar com eles neste momento de maior “sacrifício”, mas pedem-nos o mesmo; que não nos esqueçamos de retribuir, apoiando a arte, agora e no futuro.
O Governo já se manifestou através da criação de uma linha de apoio de emergência, no valor de um milhão de euros, para artistas e entidades culturais cujos meios financeiros podem comprometer a sua sobrevivência ao longo desta fase crítica. Conscientes de que este auxílio peca, ainda assim, no seu alcance e abrangência, cabe-nos refletir sobre os mecanismos de que dispomos para os ajudar e, em simultâneo, alargar o nosso conhecimento e saber. Na mesma semana, celebraram-se o Dia Mundial da Poesia, do Livro Português, o Dia Mundial do Teatro e o Dia Nacional dos Centros Históricos. Não sei quanto a vocês (eu cá assinalei-os, bem como o Crónico), mas quanto destaque foi conferido a estes marcos e ao que se propõem enaltecer?
É neste pressuposto que ouso alargar as sugestões apresentadas pelo António, tecendo breves comentários acerca do que vos desafio a conhecer.
Museus
Percam-se nas centenas de museus do Google Arts & Culture, sem prejuízo de visitarem os que não estão contemplados nestas coleções. Para começar, sugiro o Museu de Van Gogh (Amesterdão), de Frida Kahlo (Cidade do México), o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque), Hermitage (São Petersburgo) e o Museu Nacional do Quénia (Nairobi). A nível nacional procurem o Museu Nacional do Azulejo de São Roque, o Palácio Nacional de Queluz, o Mosteiro da Batalha e a Galeria de Arte Urbana.
Álbuns ou Músicas
Destaco os álbuns de Pearl Jam, Cláudia Pascoal e Donald Glover. Não percam a música de Bob Dylan nem a que está para vir de Vitor Kley, cujo lançamento antecipado se deve ao momento que vivemos. Adicionalmente, algumas discotecas como o lux e o lust estão a promover convívios online noturnos nos quais podem disfrutar com os vossos amigos.
HBO e Netflix
Descubram as comédias satíricas de Succession, Fleabag e The Office ou a mais recente saga de Freud, mergulhem nos crimes de Ozark e de Peaky Blinders, contrastantes com a utopia ética de The Good Place. Já Years and Years apresenta-nos a dinâmica de uma família caricata de Manchester. Não podem falhar a grande surpresa de 2019, Parasite, o sinistro Joker ou os imperdíveis Pulp Fiction, Vanilla Sky e Fight Club. Revisitem Good will Hunting, o drama de um génio escondido, e Inception, profundo e penetrante na noção de subconsciente. Por fim têm 13th, um documentário ímpar acerca da criminizalização dos afro-americanos nos EUA.
Documentários
Através da RTP Play podem encontrar inúmeros filmes e séries nacionais gratuitos. Desde Artistas em Rede, na RTP 1, aos documentários que vão ser transmitidos na RTP 2, dos quais aconselho: vítimas da austeridade imposta pela Troika, dia 2 de abril, e o filme sobre Karl Marx e Friedrich Engels dia 6. Podem ainda ver o “Pontas Soltas” no canal de Youtube da banda Capitão Fausto ou a Quarentena Cinéfila da Medeia Filmes.
Podcasts
A primeira escolha recai, claro, no podcast Parágrafo. Têm igualmente “Ar Livre” de Salvador Martinha, “Perguntar Não Ofende” de Daniel Oliveira, “Maluco Beleza” de Rui Unas, “Sozinho em Casa” de Guilherme Geirinhas ou “Eixo do Mal”. Sem esquecer “Fumaça”, um projeto de jornalismo que se distingue por ser “independente, progressista e dissidente” atual e muito interessante.
Ópera e Musicais
Se gostam de clássicos, não podem perder Don Giovanni e Le Nozze de Figaro de Mozart ou Carmen de Bizet. Por outro lado, a Broadway HD oferece a primeira semana de subscrição gratuita e vale totalmente a pena. Recomendo the Death of a Salesman, Oklahoma, o apaixonante Memphis ou a irreverência desafiante de Kinky Boots. Já através do canal de Youtube do teatro Bolshoi poderão deslumbrar-se com alguns dos bailados mais incríveis.
Literatura
Podem fazer o download gratuito de inúmeros livros de Fernando Pessoa, dos quais sugiro o Cancioneiro, o Livro do Desassossego e o Guardador de Rebanhos. Por outro lado, a Imprensa Nacional da Casa da Moeda oferece-nos a coleção “O Essencial sobre” – Vergílio Ferreira é espetacular; não deixem escapar Charles Chaplin.
Na Biblioteca Nacional Digital, na Open Library e na World Digital Library têm infindáveis opções de e-books que podem explorar. Também a Chiado Books, a Leya, a Amazon e a Loja da Google Play disponibilizam exemplares todas as semanas. Para quem não tem redes sociais, de segunda a sexta a partir das 16h a Casa Fernando Pessoa contacta as pessoas para as suas “Leituras ao Ouvido”. No caso da Livraria Lello vai existir um drive thru. Para os apaixonados por Filosofia, estão também disponíveis cem livros para consulta, no caso da arte são mais de mil no site do MET.
“Festivais”
O Festival Iminitente terá a sua edição de emergência dia 4 de abril. Multifacetada e solidária, vai angariar fundos para os principais hospitais a combater o COVID-19. Por outro lado, para uma boa gargalhada ou para descobrir novos estilos de dança existem #RirEmCasa e #EuDançoEmCasa.
Teatro
O Teatro São Carlos disponibiliza conteúdos do seu arquivo e um podcast próprio, o Teatro Aberto vai partilhar peças todas as noites. O Teatro Nacional D. Maria II exibe espetáculos online sextas e sábados, enquanto que o Experimental de Cascais dinamiza noites de teatro às segundas-feiras no seu canal de Youtube. Por sua vez, a Companhia Teatro Almada terá também sessões semanais para o público.
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