“Eu quero um som delicado sem ter pressa”.
Texto de Isabel Maria Mónica
A primeira frase do álbum Delicadeza responde a este pedido que todos temos, mesmo que muitas vezes não o saibamos. Fazendo frente a todo o desordenado ruído dos nossos dias — tanto exterior como interior —, o conjunto Viela dos Abraços traz a reboque uma beleza que nos envolve, promove e comove.
Abraços traz a reboque uma beleza que nos envolve, promove e comove.
Este “projecto musical e poético” — como se definem no seu site www.viela.pt — foi fruto do encontro dos poemas do guitarrista Filipe Almeida com a voz da cantora Inês Viterbo. Para ajudar a extrair o sumo desse fruto, juntaram-se outros músicos como Pedro Nobre (piano, Rhodes e Hammond B3), André Rosinha (contrabaixo) e Alexandre Alves (bateria), para além da pontual contribuição de outros escritores, instrumentistas ou cantores. Um desenho de Júlio Pomar ilustra a capa.
Ao ouvir o álbum damo-nos conta de que ele narra a história de uma rapariga nascida na serra que decide rumar até à cidade. Percorrendo as canções, vivemos com a protagonista os desafios e percalços dessa aventura, e contemplamos com ela o entusiasmo de nos desacomodarmos, mas também a consciencialização de que muitas vezes o melhor lugar é aquele que está perto.
Esta viagem audível lembra-nos de que a arte tem o poder de nos desassossegar e de nos convocar a participar dos sentimentos de outros, muitas vezes adoptando-os para nós próprios, num genuíno exercício de empatia.
É um projecto acessível a todos, sem pretensiosismos, que abdica de harmonias complexas e de palavras presunçosas sem se tornar desinteressante ou aborrecido. Esta atitude combina com a história que conta, pois, através de tantas subtilezas, evidencia-nos o facto de que é na simplicidade que está a beleza mais requintada.
Nesta Viela, a música e a poesia Abraçam-se e convidam-nos a encontrarmo-nos com esta fisicalidade da qual há tantos meses andamos desfalcados. E que maravilha é este encontro.
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