Recentemente, vi duas exposições de que gostei muito e que, de alguma forma, gostaria de comparar.
William Klein (1926-2022), norte-americano de origem húngara, foi fotógrafo, cineasta e pintor. Apesar de ser conhecido principalmente pela fotografia, tendo tido grande influência na segunda metade do século XX, as outras áreas artísticas às quais se dedicou são igualmente relevantes.
A exposição “O Mundo Inteiro é um Palco”, que exibe maioritariamente as suas obras fotográficas, no MAAT, demonstra a sua posição de intervenção com os sujeitos da fotografia e a sua proximidade com as cenas e pessoas que retrata. Usando sobretudo a fotografia a preto e branco, o artista demonstra cenas nas grandes cidades de Nova Iorque, Paris, Roma, Moscovo e Tóquio e quase que nos convida a entrar nessas cenas, por vezes caóticas e barulhentas, por vezes tranquilas e elegantes.
A exposição, organizada em cinco zonas, dá-nos a conhecer parte da vasta obra de Klein, e faz entender que há também no seu trabalho uma dimensão de performance. Não é de admirar, tendo em conta que foi fotógrafo de moda, o que pressupõe uma grande encenação, sem quase deixar espaço para a espontaneidade. O seu mockumentary “Where are you, Polly Maggoo?” é uma sátira a esse mundo do qual Klein fez parte.
Assim, William Klein usa também a sua posição como fotógrafo para manipular os modelos das suas fotografias nessas cidades e locais por onde passa. Apesar de termos noção desta vertente encenada, penso que isso não nos impede de apreciar a estética das suas fotografias e a proximidade com esses sujeitos, tendo até a sensação de transporte para determinadas realidades.
Fernando Lemos (1926-2019), cuja obra está exposta no novo Centro de Arte Moderna Gulbenkian, é também um artista multidisciplinar que passou pela pintura, desenho, fotografia, design, e ainda pela escrita e pelo ensino. O artista nasceu em Portugal, mas decidiu emigrar para o Brasil, país onde viu mais valorizado o seu trabalho.
Em 1962 recebeu uma bolsa Gulbenkian para estudar caligrafia e arte japonesas, e é esse o foco da exposição “O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão”. Na exposição, organizada em seis núcleos, podemos navegar pelas salas e encontrar fotografias e desenhos inéditos do artista. Convidam-nos a mergulhar na cultura japonesa, a ver o desenho como escrita e entrar nas paisagens, quer arquitetónicas, quer humanas.
Numa entrevista dada por Lemos (um vídeo de 10 minutos que vale a pena ver durante a visita), dá-nos a ideia de que, para ele, os portugueses não seguiram caminho para a Ásia, para o Japão, à procura da conquista. Seguiram com sede de cultura, seguiram “à procura do Outro”.
É essa ideia constante de procura do outro que me fez refletir sobre o trabalho destes dois artistas, nascidos no mesmo ano, e que passaram pelos mesmos locais, é incrivelmente semelhante. Tenho a sensação de que ambos os seus trabalhos, de maneiras distintas (um com raízes mais comerciais e performativas, até literais, e outro mais abstrato e poético), têm a missão, o desejo, de chegar ao OUTRO, através da captação de momentos, paisagens, e interação com os sujeitos.
A exposição “O Mundo Inteiro é um Palco”, da obra de William Klein, está no MAAT até dia 3 de fevereiro de 2025. Já a obra de Fernando Lemos, presente em “O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão”, pode ser vista no CAM até dia 20 de janeiro de 2025.
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