de Pedro Teixeira Brites
O euro está a bater à porta e, a poucos dias da entrada em campo de Portugal, será importante perceber que seleção podemos esperar, nesta competição.
Quem os 11 titulares? Que modelo será utilizado por Roberto Martinez? Que impressões ficaram dos amigáveis que jogámos?
As expetativas estão altas e espera-se uma seleção que jogue a toda a velocidade na Alemanha. Este é o sentimento geral de uma nação que se depara com um dos – ou mesmo o – melhores grupos de jogadores de sempre.
A seleção portuguesa é uma das melhores seleções do mundo com estrelas em todas as posições: desde o jovem Diogo Costa, passando por Ruben Dias, Cancelo, Nuno Mendes e Dalot, Bruno Fernandes, Palhinha, Bernardo Silva até Ronaldo, Diogo Jota, Félix…enfim, a lista é longa e há sobram ainda nomes que não chegaram à convocatória. Depois de uma prestação pouco convincente nas últimas 3 fases finais – Mundial 2018, Euro 2020 e Mundial 2022 – este momento marca um ponto central da seleção: temos vários jogadores no pico da sua carreira, Ronaldo prepara-se para fazer a sua última fase final pela seleção (provavelmente) e temos uma nova geração a chegar. Por tudo isto, este Europeu é muito mais que apenas mais uma fase final, é muito mais que um conjunto de jogos em que se espera que joguemos mal e a ganhar “à rasca”.
Este tem de ser o nosso Euro.
Roberto Martinez ou Fernando Santos espanhol?
Antes que se riam deste subtítulo, deixem-me explicar. Fernando Santos subaproveitou a nossa seleção – acho que é consensual, tendo em conta as performances nas 3 últimas fases finais já mencionadas.
A vitória no Euro, apesar de inusitada deu um cheque de segurança de no valor de 6 anos, que só se extinguiu depois de perder frente à seleção marroquina.
O estender da relação com o selecionador português trouxe-nos um momento caricato: o fim da ligação a Fernando Santos chega depois do seu melhor jogo feito enquanto selecionador. Apesar disso, a Federação considerou ser melhor opção apostar em Roberto Martinez, o treinador que, em 2018, levou a Bélgica às meias do mundial, em 2020 se ficou pelos quartos do europeu e em 2022 não passou da fase de grupos do mundial do Catar.
Agora, fez uma qualificação imaculada com Portugal e tem apenas duas derrotas ao comando da seleção – frente à Croácia, no regresso da seleção ao Jamor e frente à Eslovénia. O que é que podemos tirar daqui?
Ao contrário do que o se foi dizendo e escrevendo ao longo da qualificação para o europeu, nunca me senti tremendamente confiante com esta seleção.
Não que ache que é um mau grupo ou que joga mal – não era o caso – mas o facto de o nosso adversário mais difícil ter sido a Eslováquia, fazia-me duvidar da euforia geral que se ia vivendo.
Após o desaire frente à Croácia, a euforia bateu num muro. E com razão. Contra uma seleção de qualidade – embora fora das primeiras duas linhas de favoritas para o europeu – a seleção portuguesa foi totalmente banalizada durante 45 minutos.
A falta de ideias de jogo e a desatenção na defesa valeu-nos os piores 45 minutos da era Martinez. O Ferrari bateu no muro. Ao fim de 14 jogos, a seleção havia feito um teste, um verdadeiro, e falhou, a escassos dias entrar em competição.
A incapacidade de defender transições, a posse de bola sem um fim e a boa exibição dos croatas fez por merecer mais que o 1-0 que levaram para intervalo.
Embora melhor, a exibição da segunda parte não serviu para afastar os fantasmas que apareceram no Jamor. Após este jogo, uma vitória frente à Irlanda repôs a moral, mas não fez esquecer o banho de realidade que a seleção das quinas levou.
O camaleão português
Com defesa a 4, com defesa a 5, a jogar com Leão na ala, a jogar com Félix entrelinhas, Ronaldo sozinho ou apoiado. A seleção portuguesa não tem um modelo, é camaleónica e tem várias formas de encarar o que aí vem.
Se Roberto chegou à seleção com ambição de implementar o seu modelo de 3 centrais, ao fim de alguns jogos decidiu assumir defender apenas com 4.
Num modelo com 3 centrais, existe mais proteção para as incursões de Cancelo e do lateral que o acompanhar (Dalot ou Nuno Mendes) e Inácio joga com um conforto diferente – o central joga neste esquema no Sporting e mostrou debilidades no esquema com apenas 2 centrais, nomeadamente, no controlo da profundidade.
Porém, uma peça tem de sair do meio-campo e, numa seleção com as possibilidades portuguesas, deixar Palhinha, Vitinha ou João Neves de fora por um central parece ser um preço demasiado alto a pagar.
No meio-campo, jogando com 3 centrais, há espaço para Bruno e mais um – Vitinha ou Neves devem ser os escolhidos, com Bernardo ou Félix a jogarem um pouco mais à frente, com liberdade de movimentos e obrigação de criatividade.
Na frente, será Ronaldo e mais um, para o selecionador.
Depois de uma boa amostra frente à Irlanda, Ronaldo terá de fazer muito mais que o que fez no último Mundial se Portugal quiser ambicionar o troféu. Para isso, jogar com o apoio de um 10 ou numa pareceria com Jota, parecem-me ser as soluções mais viáveis.
Num modelo com 2 centrais, o meio-campo compõe-se de forma diferente. Para mim, será Vitinha, Bruno e mais um, em princípio, Palhinha. Com um meio-campo a dar primazia à criação, a frente de ataque deverá ser composta por Leão, Ronaldo e Bernardo.
No meu entender, a falta de rendimento de Bernardo na seleção e a necessidade de dar apoio a Ronaldo fazem-me questionar este modelo.
Na minha ótica, Francisco Conceição, pelo que destabiliza, é fundamental e a falta de consistência de Rafael Leão faz-me questionar se um jogador que possa jogar em terrenos mais interiores, como Félix ou o próprio Jota, não serão opções mais viáveis – e ter Rafael Leão a sair do banco é um garante enorme para momentos de jogo mais abertos e partidos.
Disto isto, o meu onze para a seleção seria o seguinte:
Diogo Costa
Nuno Mendes Ruben Dias Pepe João Cancelo
Palhinha
Vitinha Bruno Fernandes
Diogo Jota Cristiano Ronaldo Francisco Conceição
Em relação a expetativas para o Euro, o meu realismo – há quem lhe chame pessimismo – não agoura nada de bom.
Tenho muitas dúvidas das capacidades desta seleção de virar um resultado frente a uma seleção que tenha coesão defensiva.
Parece que somos uma seleção com poucas ideias e a própria questão Ronaldo traz alguma insegurança – frente a jogadores que jogam em campeonatos mais competitivos como é que se sairá? Se as coisas não estiverem a correr bem quão mal reagirá a ter de sair de campo, ou começar de fora?
Esta é uma seleção com muitas questões e muitos pontos de interrogação. A preparação francamente fraca não ajudou e o desaire frente à única seleção com um ranking FIFA superior a 48 em nada me deu mais certezas.
Em relação aos jogos do Euro, é suposto que a fase de grupos seja um passeio – não pela falta de qualidade dos adversários, mas sobretudo pela qualidade que temos. A partir dos oitavos é que se perceberá em que pé estamos.
Martinez conduz um ferrari. Espero que a velocidade não o apanhe de surpresa.
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