Na verdade, já todos devemos ter dito que “estávamos fartos de notícias sobre a pandemia”, mas simultaneamente sentimos pressão para saber mais sobre ela, o que nos leva a procurar mais informações – afinal, é tão simples escrever algo na barra de pesquisa e carregar no enter.
Crónica de Sara Viana
Sejamos sinceros, o tema não é novo. Aliás, há anos que especialistas, tais como médicos e sociólogos, alertam para o facto de sofrermos bombardeamentos constantes de informação, principalmente proveniente dos instrumentos tecnológicos que carregamos todos os dias nas nossas mãos – não fossemos a intitulada Sociedade da Informação.
No entanto, a tendência de recebermos cada vez mais informação aumentou exponencialmente com o surgimento da pandemia e com o decretamento das medidas de confinamento. Isolarmo-nos em casa tornou-nos (ainda) mais dependentes dos aparelhos eletrónicos, já que com eles procuramos ocupar o nosso tempo, evitando o aborrecimento de não podermos sair. Ora passamos 3 horas a olhar para uma rede social, fazendo scroll infinitamente, como se procurássemos algo que não sabemos bem o quê, ora ligamos a televisão e passamos o resto do dia a olhar para ela. Contudo, o cerne da questão não reside só nestas horas em que tentamos preencher o vazio de um dia em confinamento, sem ver ou falar presencialmente com alguém, mas sim naquilo que nos é transmitido naquele espaço de tempo e a forma como reagimos.
Neste sentido, durante aquele tempo em que nos encontramos a olhar para o telemóvel, para o computador ou para a televisão somos capazes de ler centenas de notícias e de outros posts que contêm novas informações. Por um lado, estas nem sempre são relevantes, mas o simples facto de aparecerem à frente dos nossos olhos é suficiente para que o nosso cérebro recolha as informações contidas mesmas. Por outro lado, muitas das notícias que vemos relacionam-se com o tema “pandemia”: número de casos diários, “o pior dia de sempre da pandemia”, apoios do Estado ao setor da restauração – ou a escassez deles –, a vacinação, a renovação do estado de emergência, etc. Assim, facilmente compreendemos que toda a informação que temos vindo a receber é, em grande parte, direcionada para a COVID-19, ainda que indiretamente.
Na verdade, já todos devemos ter dito que “estávamos fartos de notícias sobre a pandemia”, mas simultaneamente sentimos pressão para saber mais sobre ela, o que nos leva a procurar mais informações – afinal, é tão simples escrever algo na barra de pesquisa e carregar no enter. Também já todos nos devemos ter sentido assoberbados pelas notícias, pelo menos uma vez neste último ano. Naturalmente, a quantidade de informação existente sobre a pandemia e todos os problemas associados àquela necessita de ser especialmente assimilada pelo nosso cérebro, pois já o ser humano já se encontra sujeito a outra circunstância que não o permite fazer aquilo que é inerente à sua natureza: comunicar.
Assim, a constante necessidade de nos sentirmos atualizados, a par de todos os inconvenientes do confinamento, acaba por se revelar prejudicial para a nossa saúde mental, sendo possível retirarmos diversas consequências como o aumento dos níveis de stress e ansiedade ou a diminuição da capacidade de concentração e de memorização.
Além de tudo isto, não podemos esquecer que nem toda a informação é credível. Ou melhor, nem toda a informação é verdadeiramente informação. Pelo contrário, assistimos a um proliferar das fake news (que não existem só porque Donald Trump se referia a elas) que ocupam desnecessariamente o nosso cérebro.
Qual a solução para isto? Talvez seja desligar dos meios de comunicação social por uns momentos? Aprender a selecionar a informação prioritária e útil? Não há soluções perfeitas, mas em tempos conturbados como estes, é importante que preservemos a nossa sanidade mental e evitemos o desgaste psicológico.
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