Brex... shit!
- Crónico.
- 28 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
No dia 31 de Janeiro de 2020, a saída do Reino Unido da União Europeia finalizou-se. Porém, só mais de um ano e meio depois é que os efeitos do Brexit se fazem sentir. É certo que este período foi extraordinário, o encerramento de países e comunidades influenciou a atividade económica em todo o mundo e só no final do ano passado é que se começou a sentir alguma esperança com a vacinação nos países ricos.
de José Monteiro

Com o processo de vacinação, tudo dava a entender que o Brexit não seria assim tão mau, uma vez que Boris Johnson e o seu Cabinet negociaram as vacinas fora do Bloco Europeu, tendo acesso às mesmas mais rapidamente. Isto deu algum alento aos brexiteers, fôlego esse que desvaneceu num relativo curto espaço de tempo.
Chegados ao verão de 2021, o processo de vacinação na Europa corre bem e a sociedade começa, lentamente, a voltar ao normal. É a partir desta altura que se começam a sentir os problemas do Brexit. Problemas estes relacionados com as quatro liberdades europeias: a liberdade de circulação de bens, serviços, pessoas e capitais.
Concentremo-nos na liberdade de circulação de pessoas, uma delas que afeta mais diretamente o Reino Unido.
O governo inglês estima que faltem cerca de cem mil camionistas, sendo essa uma das razões para as imagens de bombas de gasolina com filas enormes e supermercados vazios. Antes do Brexit, este serviço era assegurado por camionistas europeus (maioritariamente do Leste da Europa) que, agora, precisam de visto para entrar em terras de sua Majestade.
Acontece que muitas vezes este visto não é atribuído, deixando dezenas de milhares de camionistas numa situação difícil. Estes são confrontados com duas opções: ficar nos seus países de origem ou irem procurar trabalho noutros países europeus, efetuando uma viagem de milhares de quilómetros com um fim incerto.
Para reverter a situação, o governo de Johnson anunciou no início de outubro que iria estender todos os vistos atribuídos até ao fim do ano, de modo a não afetar o Natal das famílias inglesas. Esta medida revela-se insuficiente, visto que a necessidade de camionistas não vai desaparecer depois do Natal. Na verdade, parece que BoJo está a empurrar o problema “com a barriga” para o início do próximo ano. Keir Starmer (líder da oposição e do Partido Trabalhista), pediu ao governo para tomar medidas urgentes e afirmou que este problema iria persistir e eventualmente se estender a outros setores.
Além desta medida, o governo recorreu ao auxílio das Forças Armadas para substituir os camionistas e ajudar na distribuição de combustível. Uma medida que não pode vigorar eternamente, tendo em conta que o recurso às Forças Armadas deve ser apenas considerado em casos de emergência e a perpetuação do seu uso revela profunda incapacidade de planeamento por parte do governo.
A falta de mão-de-obra é um dos principais problemas que Boris Johnson enfrenta e que só ficou patente com o desaparecimento da liberdade de circulação de pessoas. Um camionista, por exemplo, demora vários meses a ser instruído, ao passo que um médico (outra das profissões em que o Reino Unido se apoiava em mão-de-obra europeia) demora vários anos até concluir os seus estudos.
Das duas uma: ou o Brexit Plan de Boris Johnson não previu este problema, ou tendo-o previsto, não implementou medidas para acautelar esta carência de mão-de-obra até ao momento. Qualquer uma das duas possibilidades é negativa e revela que o Brexit só vai trazer malefícios para o Reino Unido.
Um desses malefícios é a redução do PIB. Vários economistas preveem que a saída da União Europeia conduza a um decréscimo do PIB inglês em 4%, no longo prazo. Acrescente-se a esta figura um decréscimo resultante da pandemia de cerca de 2%. Por outro lado, as previsões para o Continente Europeu são de crescimento.
Deste modo, aumenta o fosso económico-financeiro (e, consequentemente, o social) entre o Bloco Europeu e o Reino Unido que, lembre-se, saiu da UE para “readquirir a sua soberania”. No entanto, tudo o que readquiriu até agora são problemas que remontam ao pós-Segunda Guerra Mundial.
Há quem contra-argumente que estas previsões são pessimistas e que o Reino Unido vai surpreender as projeções feitas pela positiva. Como não sou futurista, só me posso basear nos dados apresentados. E até a este ponto, todos os indicadores demonstram que o Brexit está a ser um fracasso.
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