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Existem sinais de esperança no dirigismo do futebol português?

  • Foto do escritor: Crónico.
    Crónico.
  • 26 de abr. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 24 de set. de 2024

De João Campos

 

Como boa parte, diria, dos miúdos portugueses cresci com gosto pelo futebol. Não nasci numa casa que se interessasse pelo assunto, menos comum, mas fui apanhando o gosto na escola e com outros familiares.

Como o meu meio ditava, o maior tema entre rapazes era a bola, quer fosse a jogar nos intervalos da escola munidos de fenomenais ténis mercurial ou F50; na PlayStation a conduzir o Inter do Prime Mourinho; ou a comentar o 8-1 avassalador do Benfica naquele início de época de 2009/2010.


Cresci com Pinto da Costa rei e senhor incontestado num Porto que já tinha o rótulo profundo do Apito Dourado, com Luís Filipe Vieira e a sua fanfarronice de “faço e aconteço” e episódios igualmente dúbios do ponto de vista judicial, e com um Sporting sem reis e senhores incontestados, mas num rebuliço interno que acabaria, um tempo depois, no salvador messiânico do sportinguismo: Bruno de Carvalho. 


Até posso ir mais além: vi um Boavista competitivo que tombou para campeonatos secundários ou um Gil Vicente e Belenenses com histórias igualmente tristes.

Joguei alguns anos futebol federado, até aos iniciados, percorri o Algarve pela bola e fui sentido o poder do futebol local de camadas jovens: formação – a todos os níveis -, comunidade e abnegação. 


Estes princípios, bonitos e salpicados um pouco por todo o País, por vezes contrastam com uma Liga Profissional pouco virada para um espírito de formação dos valores do desporto e pouco virada para um comunitarismo/clubismo saudável, realidade que começa nos adeptos e acaba no dirigismo supostamente profissional.


A certa altura da história recente da nossa Liga fomos assistindo a uma mudança na mentalidade dos treinadores, quer do ponto de vista da cientificidade do futebol, quer da gestão dos recursos humanos ou ainda na forma de comunicar.


Homens como Bruno Lage ou Rúben Amorim fazem qualquer adepto de bom-senso aplaudir. Os valores que carregam e como os comunicam muitas vezes acabaram a acalmar hostes, mantendo a serenidade que cada momento foi exigindo.

Se observarmos os jogadores vemos um cenário semelhante. Temos ganho referências como o Bernardo Silva ou como o Palhinha que não só pautam pela classe com a bola nos pés como pela sobriedade e pouca polarização do discurso ou até no entendimento claro sobre as várias nuances do jogo.


Mas e o dirigismo? Eu, benfiquista, tentei convencer toda a gente da bondade e qualidade da candidatura de Noronha Lopes há poucos anos. Levámos uma honrosa tareia, mas o período de campanha foi profícuo na exposição de ideias naquela candidatura.


A limitação de poder, nomeadamente mandatos; a visão de que acima dos resultados desportivos tem de estar uma certa dignidade institucional que eu designo de benfiquismo mas que um sportinguista chamará, com razão para tal, de sportinguismo.


O tal espírito de formação e de comunitarismo positivo, independentemente do clube, aliado a uma capacidade de estudar os temas e dar-lhes algum rigor.

No entretanto, o Sporting bateu no fundo com o episódio da academia, mas virou num rumo aparentemente diferente com Varandas, desportivamente e institucionalmente.


O Benfica viu-se também a braços com situações degradantes que acabaram por resultar no afastamento de Luís Filipe Vieira, surgindo Rui Costa que, apesar de representar continuidade, traz consigo uma personalidade e uma forma de estar distinta.


No dia 27 de abril é a vez do FC Porto se decidir sobre uma transição, talvez geracional, na forma de ver e estar no futebol. De um lado um homem que, se ganhar, fará 90 anos durante o mandato e que lá está desde 1982, ainda a AD original governava o País.


Do outro lado estará uma pessoa renovada, que tem apresentado ideias, profissionalismo, e uma atitude sensata que, parece-me, ter paralelo com a candidatura de Noronha Lopes.


O que eu pergunto é: quão melhor é a Liga Portuguesa “liderada” por Villas-Boas, Varandas ou Rui Costa, comparativamente a uma liderada por Pinto da Costa, Bruno de Carvalho ou Luís Filipe Vieira. 

A mudança estará, vagarosamente, a acontecer? Pode esta eventual renovação do tridente mais importante do futebol português fazer alguma diferença? Esperemos que sim.

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