Não sou militante do CDS, mas sou por Portugal
- Crónico.
- 7 de nov. de 2021
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Tenho família em Ponte de Lima, terra CDS-PP desde que se conhece com maioria absoluta. Há anos e anos que ganha sempre o CDS-PP. Sou conhecedora do partido e familiar de quem já o liderou e neste momento estou extremamente triste e desiludida com o que está a acontecer, mas em especial com o que está a acontecer à democracia e à história política nacional.
de Joana Garrido Amorim

O CDS-PP foi fundado a 19 de julho de 1974, ainda como Partido do Centro Democrático Social (daí CDS), por Diogo Freitas do Amaral, que apesar da vida política conturbada com a mudança para o PS foi um dos fundadores que deu cara a este partido.
Como qualquer partido que se preze, desde o 25 de abril até aos dias de hoje teve vários presidentes. No CDS-PP destacam-se vários que marcaram o passado e a história do partido, como Francisco Lucas Pires ou professor Adriano Moreira. Comete falácia aquele que não reconhece que a vida política do CDS sempre foi conturbada. Demissões, “vira-casacas”, sucessões estratégicas, alianças. Destaque também para o presidente do Grupo Parlamentar, Narana Coissoró, para o líder mais longínquo do CDS, Paulo Portas, cumprimentos especiais à irmandade mais recente de deputados e presidentes do partido.
Pois bem, engane-se aquele que acha que o CDS tem raízes em famílias de castas, apelidos, brasonadas. É um partido de direita. Há quem o considere um partido conservador, há quem o considere um partido liberal clássico, mas é essencialmente um partido muito rural e a história do partido tem força essencialmente na ruralidade, nas pequenas aldeias do interior e territórios com história, como é o caso de Ponte de Lima.
O militante do CDS é uma pessoa terra a terra, que tem a “Coimbra, mas que também tem a tarimba”, que é conhecedor sensato e sabe o que custa a vida. São pessoas simples, moderadas, modestas e de trabalho. Se têm alguma propriedade, ou se estão financeiramente estáveis na vida, fizeram por isso. É um partido essencialmente agrícola, cortês, da farra, dos serões, dos copos políticos e das conversas que se estendem.
A melhor prestação de que me recordo do CDS foi quando formou governo com Pedro Passos Coelho na coligação Portugal à Frente, com a presença de João Almeida, Assunção Cristas, Paulo Portas, Pedro Mota Soares. O CDS de agora, do “Chicão” e de Nuno Melo - venha o diabo e escolha um deles. O CDS do pós Cristas tem vindo sistematicamente a degradar-se e, em plena crise política, “em casa quando não há pão todos ralham e ninguém tem razão”, com eleições marcadas para 30 de janeiro, o CDS está a arder.
Estamos perante um CDS sem Adolfo Mesquita Nunes, sem Pires de Lima, muito provavelmente sem Ana Rita Bessa e sem Cecília Meireles. Um CDS sem os barões que o mantinham vivo. É uma pena vermos um partido que marcou a história da nossa democracia, um partido que formou quadros qualificados, um partido que reunia bons políticos, que ainda tinha tanto para dar ao país perder-se assim, desmesuradamente. Será um período negro para a democracia.
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