Na maioria das democracias, quem recebe mais votos diretos é eleito presidente. Mas nos Estados Unidos não.
Nos EUA, a escolha do Presidente é feita através do Colégio Eleitoral, composto por delegados de cada estado.
Cada estado tem um determinado número de delegados que equivalem a votos eleitorais. Esses delegados/votos eleitorais são a soma do número de representantes no Congresso de um Estado (proporcional à sua população) mais dois senadores.
Por exemplo, o Texas — com uma população de 25 milhões — tem 38 representantes + 2 senadores, o que equivale a 40 votos eleitorais/delegados. Já Vermont, com apenas 647 mil pessoas, conta com um representante + 2 senadores, totalizando 3 votos eleitorais/delegados.
Este modelo segue a lógica de “the winner takes it all”: o candidato que ganha a maioria dos votos num estado recebe todos os votos eleitorais desse estado.
Ou seja: mesmo que uma boa parcela dos eleitores vote Democrata no Texas, se a maioria dos votos for para o candidato Republicano, todos os 38 votos do Colégio Eleitoral desse estado vão para o Republicano.
Para ser eleito, um candidato precisa conquistar pelo menos 270 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Esse sistema faz com que, em certos casos, o vencedor do Colégio Eleitoral não seja aquele com mais votos populares, um resultado que surpreende e até desafia a perceção comum de democracia, onde prevaleceria o princípio da maioria direta.
Esse fenómeno já aconteceu em vários momentos da história norte-americana:
Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton recebeu cerca de três milhões de votos a mais do que Donald Trump, garantindo a preferência popular em termos absolutos. No entanto, Trump conquistou a presidência ao acumular 304 votos eleitorais, superando o limite necessário e vencendo, portanto, no Colégio Eleitoral.
O mesmo se verificou em 2000, quando o democrata Al Gore obteve mais votos populares do que George W. Bush. Ainda assim, devido a uma recontagem disputada e uma decisão decisiva da Suprema Corte na Flórida, Bush levou os 271 votos do Colégio Eleitoral, tornando-se o 43º presidente dos EUA.
Outro exemplo clássico é o de 1888: Grover Cleveland, o presidente incumbente, conquistou mais votos populares, mas Benjamin Harrison, seu oponente, venceu no Colégio Eleitoral, garantindo o cargo.
Esses episódios emblemáticos revelam as complexidades e controvérsias do sistema eleitoral norte-americano, que, ao mesmo tempo que procura equilibrar a influência de estados grandes e pequenos, pode distanciar-se da vontade direta da maioria popular.
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