De Teresa Blanco
Todos nós conhecemos os benefícios de dançar. Para além de ser uma forma de expressão artística, a dança ajuda a perder peso e exercitar o corpo, a estimular a memória e a reduzir o stress.
Dançar pode, também, ter uma forte componente social e desafiar-nos a sair da zona de conforto.
Desde cedo que me aventurei em aulas de dança. Passei pelo Hip Hop, pelo Jazz Broadway, House, entre outros estilos, sempre como veículo para libertar stress ou a ansiedade do dia-a-dia.
Mas foi há relativamente pouco tempo, e por curiosidade pelo aspeto partilhado da dança, que decidi experimentar uma dança a pares. Foi assim que cheguei ao Lindy Hop.
O Lindy Hop é uma dança que surgiu no seio das comunidades afro-americanas de Harlem, Nova Iorque, em 1928. Faz parte da família das “danças swing” – Charleston, Solo Jazz, Balboa, Foxtrot –, cujo nome deriva do estilo de música Jazz.
Dança-se ao som de vozes tão icónicas como as de Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Frank Sinatra, entre outros, e é conhecida por ter muito ritmo e elevado footwork.
Este estilo de dança, que se tornou muito popular nos anos 30 e 40, começou por ser uma simples dança de rua, quando os moradores de Harlem se juntavam após dias de trabalho desafiantes para tocar instrumentos, dançar ou apenas observar e aplaudir.
Apareceu como uma forma de conexão entre a comunidade, de expressão e de diversão fora do dia-a-dia árduo, especialmente num período em que a segregação ainda era uma realidade.
Um lugar essencial na história do Lindy Hop foi o Savoy Ballroom, localizado também em Harlem. Para além de ter sido relevante para a disseminação deste tipo de dança, este deslumbrante salão teve desde o início, curiosamente, uma política de não-discriminação.
Foi o único sítio nessa época onde era permitido que qualquer pessoa entrasse, desde que a vontade de dançar existisse.
Ali a dança era para todos, como dizia Frankie Manning, uma das figuras mais célebres deste estilo: “Nobody cared what colour you were—they were all looking at your feet!”
Atrevo-me a dizer que dançar Lindy Hop em 2024 é uma homenagem os percursores deste estilo de dança.
O objetivo sempre foi divertir, descomprimir e conectar com outras pessoas, independentemente das suas origens, e é exatamente isso que vejo na comunidade de danças swing em Lisboa.
Esta não é uma dança séria ou demasiado metódica. É uma dança divertida, para todas as idades e géneros, em que existe um leader, quem dá as sugestões, e um follower, aquele/a que interpreta as sugestões dadas.
Após algum tempo a aprender esta dança, acredito que, se soubermos os passos base – rock step, triple step, kick –, é relativamente natural dançar com um par num contexto social.
Na realidade, penso que o mais importante é apreciar a música e saber seguir ao seu ritmo - ter algum swing!
Pouco importa se fazemos os passos todos de forma correta, interessa mais o flow e a conexão que formamos com o par. Por isso, se são fãs do improviso, há também muito espaço para isso!
O Lindy Hop conta com inúmeras variações, mas uma coisa é certa: nunca perdeu o seu caráter leve e descontraído. Para mim tem sido uma das experiências mais revigorantes dançar a pares, sobretudo este estilo de dança.
Nas aulas aprendo variações dos passos-base, formas de improvisar e novos ritmos, para depois dançar livremente em contexto social. Isto pode dar-se tanto numa festa organizada, com outfits a rigor e música ao vivo, como simplesmente num jardim onde alguém põe música na coluna e começamos a dançar.
É muito especial fazer parte deste grupo de pessoas que decidiram aprender um estilo de dança aparentemente antiquado, mas que, na realidade, aceita a inclusão de outros estilos.
Qualquer experiência na dança, quer seja mais clássica ou mais moderna, é totalmente incentivada no Lindy Hop. É essa diversidade que permite que cada um traga algo único para os momentos de convívio.
A comunidade de danças swing em Lisboa é a prova do caráter social da dança e da relevância que continua a mostrar ao longo dos tempos.
É pouco comum, hoje em dia, um espaço de encontro como estes. Estranhos que se reúnem, e que podem até nem falar a mesma língua, compreendem-se na linguagem da dança e na conexão que é criada em apenas segundos ao som da música jazz.
Em Lisboa, é possível aprender Lindy Hop e outras danças swing (a par ou a solo), em escolas como a Swing n’ Smile, nos Anjos; a Little Big Apple, nas Olaias; ou a Blues & Swing, na Estefânia. Há também o festival Little Big Swing Camp, que costuma acontecer em São Pedro do Sul no final de setembro.
“I’ve never seen a Lindy Hopper who wasn’t smiling. It’s a happy dance. It makes you feel good", Frankie Manning
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