SOS Restaurantes
- Crónico.
- 13 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Tempos de Santos Populares, de casas de banho com filas até à porta, de cozinheiras atarefadas e de um “Boa tarde menina, já não temos lugares por hoje.”. Tempos de portas abertas, os tempos que estão para vir num país esperançado pela vacina – o shot necessário para a economia.

Crónica de Beatriz Mirão
É fim do dia em Lisboa, está um pôr do sol bonito e a fome começa a sentir-se. Pelas ruas da Graça, cada cadeira parece mais apetitosa que a anterior.
- “Boa tarde menina, deseja sentar-se?”
Vejo o menu atentamente. A comida parece boa, o ambiente parece bom e estou pronta para me sentar.
Antes de me sentar pergunto se posso ir à casa de banho – as mãos secas de tanto desinfetante pedem por água e sabonete. A cara de quem antes estava desejoso de ver algum movimento no restaurante, fica meio perdida – completamente perplexo.
- “Menina, entrar na casa de banho é que não sei se pode. Só com o teste”.
As introduções recentes no programa de confinamento vieram abalar mais uma vez estes negócios – dos pequenos aos grandes, as regras são para todos. E embora confusas, estão de volta.
A obrigatoriedade de apresentação de teste à Covid-19 de forma a permanecer dentro dos restaurantes é já prática comum noutros países como na Alemanha ou em França, mas, por aqui, caiu novamente como uma bomba – uma bomba sobre um setor já muito afetado.
As perdas aproximam-se agora às do ano passado – com os restaurantes todos fechados. Entre 60 a 80% dos restaurantes não têm esplanada, o que os deixa completamente na mão da vontade dos clientes se testarem à porta, dirigirem-se à farmácia ou apresentarem o certificado de vacinação – algo que só 36% da população poderá ter acesso por agora.
O período que agora chega, o mais forte em termos de ocupação e receitas, foi salvo no ano passado. Mas não se prevê o mesmo para 2021. Pelas contas dos especialistas na matéria, o pico desta quarta vaga será atingido em final de Julho ou início de Agosto – exatamente no momento mais critico para estes estabelecimentos.
Não vejo grande opção para controlar toda a situação que se está a instalar. A abertura do país para ao vacinados é a solução mais segura e a que dilui os estragos pela pouca receita possível de obter.
Haveria forma de fazer diferente? Com o tempo de espera das vacinas, as mudanças na gestão do plano e a falta de recursos humanos – não vejo como. O foco na vacinação dos jovens – aqueles que efetivamente se movimentam mais a nível de lazer ou mesmo de trabalho – deveria ser o prioritário após as faixas etárias mais altas estarem estáveis. Desta forma o balanço entre internados e recuperação da economia estaria o mais equilibrado possível.
Na ausência de tal decisão, fica-nos a pouca vontade em comprar um teste ou dirigir à farmácia para aproveitar uma refeição. Entretanto os restaurantes esticam o espaço de esplanada, fazem as contas às multas versus adicionar mais uma cadeira à mesa e esperam por tempos melhores.
Tempos de Santos Populares, de casas de banho com filas até à porta, de cozinheiras atarefadas e de um “Boa tarde menina, já não temos lugares por hoje.”. Tempos de portas abertas, os tempos que estão para vir num país esperançado pela vacina – o shot necessário para a economia.
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